sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Na Sintra ainda rural de 1958



Quando os pais arranjaram uma casa para férias na Portela, em Sintra, esse bairro, a par da Estefânia, era a parte moderna da vila. Algumas moradias na descida da então Av. José Frederico Ulrich, um descampado à esquerda onde,depois de uma ruazita, ficava um dos cinemas, o Sintra-Cinema, depois a zona de prédios, baixos, com dois ou, no máximo, três andares e depois de novo descampado com mato rasteiro e algumas árvores perdidas, que ia até ao Algueirão.
Por trás da nossa casa, para além do quintal, ficava uma estrada, entre uma casa de quinta e o muro do campo de futebol do Sintrense, em terra batida, onde além do desporto-rei ocorriam no verão os Concursos Hípicos, que reunia a nata dos cavaleiros - ali vi entre outros, Malta da Costa e Ana Maria Ribeiro Ferreira, hoje embaixatriz Sider Santiago, e da nossa melhor sociedade - e onde ia com alguma frequência o Presidente da República, Gen. Craveiro Lopes, assistir às provas. Então o altifalante soava:"entra em campo o Capitão João Carlos Craveiro Lopes, montando o...".O pai seguia atentamente a carreira hípica do filho.
Para essa estrada, sobre cujo lado esquerdo se via ao fundo a serra e nela o Palácio da Pena, ia muitas vezes Fernanda Mattos e Silva desenhar e pintar, montando cavalete e sentando-se num banquinho de armar, à sombra das árvores dos restos da velha quinta. Era ainda a Sintra semi-rural com o encanto que perdeu em poucos anos com o crescimento da população e a proliferação de prédios que rodearam a nova estação dos comboios, então um tosco apeadeiro.
Esta tela retrata um trecho dessa estrada, por onde ainda passavam ,quando eu era adolescente, saloios e saloias montados em burros com os alforjes cheios de figos, ovos, galinhas, legumes , pevides e tremoços para vender. Confesso que sinto uma grande saudade dessa Sintra e dessa minha feliz e tranquila juventude.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Fernanda de Matos e Silva


desenho de modelo executado no atelier de Raquel Roque Gameiro

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Não há amor como o primeiro



Na primeira página do Diário de Notícias de 6 de Agosto de 1942, numa coluna intitulada "Livros Novos", E.V. fazia a crítica ao romance:



" A legenda editorial informa que este romance foi ' premiado com Menção Honrosa no Concurso do Grémio de Editores e Livreiros, Procura-se um romancista'. Embora a referência pouco valha para a crítica, ela obriga a pressupor, antes da leitura, que vamos encontrar uma obra de mérito.De facto,'Não há amor como o primeiro' não desilude. É uma obra trabalhada com leveza, que indica duas qualidades excelentes: prosa límpida, corrente, bem orquestrada e vôos sedutores de imaginação...Pelo lado puramente romanesco o livro da Srª D. Fernanda de Matos e Silva tem um interesse saliente e apetecível. O enredo prende...
Vaticinamos a 'Não há amor como o primeiro' o o signo da boa estrêla - esperando que ela seja guia e norte nos novos trabalhos da autora".

O quarto romance


1943-ano da publicação do quarto romance e do casamento com o seu editor, João de Almeida, e fotografia desse ano, que lhe é dedicada.


O banco de azulejos


Vista da Quinta do Alperce - aguarela de Fernanda Mattos e Silva

No canto inferior esquerdo, o banco de azulejos da sua predileção

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Fernanda de Matos e Silva


O menino dos cabelos de oiro

Eu tenho, na quinta onde moro, uma ruazinha estreita em que há um antigo banco de azulejos, da minha maior predilecção.
Sempre que a Inspiração, essa fada caprichosa, me vem visitar, é aí que costumo ir sentar-me e muitas vezes acabo por me estender no sofá de pedra, e, com os olhos perdidos na ramaria arrendada duma frondosa olaia e as mãos cruzadas debaixo da nuca, já me tem acontecido adormecer.
E então sonho coisas lindas e tão engraçadas que estou convencida que o velho banco tem misterioso condão, talvez mesmo um encantamento!
Uma destas tardes, tão quente que parecia já estarmos na Primavera, peguei na pasta dos papéis e… lá vou eu com o propósito de escrever uma história!
Mas o ar morno e o céu azul, transparente, distraíram-me tão bem… que às duas por três adormeci!
Excerto do conto publicado na revista Senhor Doutor

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Grades


Não quero estas grades diante dos meus olhos!
Não quero estes muros escondendo o horizonte!
Quero ver mais p'ralém desta vida de escolhos,
Descortinar a Terra do mais alto do monte.


Não quero estas grades diante dos meus passos,
Não quero esta prisão cerceando a liberdade,
Quero ir mais longe do que estes metros escassos
que limitam cruelmente a minha ansiedade.


Não quero estas grades tolhendo o pensamento,
Não quero esta prsião onde o meu Ser fenece,
Quero ser livre, livre como o próprio vento,
Que em invisíveis rotas vai onde lhe parece.


Não quero estas grades prendendo a minha alma,
Não quero este cárcere exíguo e apertado.
Quero sentir, enfim, a doce Paz, a calma,
de quem tem por caminho o espaço ilimitado

Fernanda Mattos e Silva, 17.3.1958

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fernanda de Matos e Silva


Ganhou em 1942 Menção Honrosa, no Concurso Literário "Procura-se um Romancista", do Grémio Nacional dos Editores e Livreiros, com o romance " Não há amor como o primeiro".



cópia retirada da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira,
Vol. XXVIII, p.783. Editorial Enciclopédia, Limitada, Lisboa

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Fernanda Noémia de Mattos e Silva


Fernanda Noémia de Mattos e Silva, pintora, escritora e cantora lírica.
Estudou pintura com Raquel Roque Gameiro. Participou em diversas exposições de pintura na Sociedade Nacional de Belas Artes, tendo ganho menções honrosas.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fernanda e Mário em recitais líricos






Fernanda e Mário estudaram canto lírico com a Profª D. Africa Cabral e participaram em vários recitais. Em divversas ocasiões estiveram no salão do Conservatório de Lisboa, nomeadamente em 11 de Junho de 1922 onde participaram num concerto dirigido pela sua professora, que também cantou árias de, entre outros, Hadydn, Wagner, Zandonai, Zanella, Albeniz, Freitas Branco e Francisca Gonzaga e em actuaram os seus alunos Maria Helena Cunha Baptista, Mário Mattos e Silva, Aurora de Sant'Ana, Estrella Cayola, Alice da Luz e Silva, Fernanda Noémia de Mattos e Silva e Manoela Laborde dos Santos. Mário interpretou "Lo Schiavo" de "Sogni d'Amore" de Carlos Gomes e "E canta il Grilo" de V.Billi e Fernanda, de "Palo e Virginia" de V.Massé, "Era notte".

O Grande Casino Peninsular da Figueira da Foz, onde passavam férias, também foi palco para recitais em que participaram por diversas vezes. Na "Festa Artística dos Sextettos", no Salão Nobre, em Agosto de 1924, Fernanda interpretou "Lo Schiavo", de Carlos Gomes, "Addio terra nativa", da ópera "Africana" de Meyerbeer e com Mário, em dueto, a canção" Ta Bouche", de M.Yvain. Mário, por sua vez, cantou a "Serenata" de Tocelli e "Ay, ay, ay", canção creoula.

O jornal "O Figueirense" refere, sobre esse concerto que "O Sr. Mário Mattos e Silva cantou brilhantemente a Serenata de Tocelli" e "Cantaram ainda o doeto Ta Bouche a Srª D. Fernanda Mattos e Silva e o Sr. Mário Mattos e Silva, que foram muito aplaudidos".

Mário da Cruz de Mattos e Silva, cantor lírico

1.º Concerto em que Mário e Fernanda participaram como cantores líricos


sábado, 9 de fevereiro de 2008

Conto de Alda dedicado aos sobrinhos Emília e João


Cria fama …. Deita-te a dormir

Aquilo começou na escola primária. No primeiro dia de aulas quando a mestra Abelha fez a chamada verificou que faltava um aluno.
Já os outros esperavam alinhados junto às carteiras que a professora os mandasse para os seus lugares. Sabedora do protocolo profissional D. Abelha não o fez sem primeiro botar fala; num brevíssimo discurso inaugural. Meus meninos – começou enfatuada, o ano lectivo que vai principiar traz ao professorado grandes esperanças, nunca como agora ocorreu tanta bicharada em busca da luz da instrução. As matrículas excederam tudo quanto é possível imaginar-se, e vejo com agrado, que estais satisfeitos de vir para a escola. Hoje é o primeiro dia de aula. Espero ver-vos no último com o mesmo aspecto risonho e confiante na esteira de um caminho mais longo e proveitoso que será um futuro cheio de glória…para muitos de vós. Sem bons alicerces meus amiguinhos não se pode executar obra sólida, e isto é o mesmo que dizer que sem bases… nada se faz de jeito.
A escola primária é o cabouco onde assenta o majestoso edifício da instrução; portanto, mãos à obra. Eu sou o capataz, vós os operários. Comecemos com coragem a construir os alicerces que aguentarão mais tarde um arranha-céus de muitos andares.
Nesta altura do discurso, mestra Abelha limpou uma lágrima teimosa que se escondia ao cantinho do olho, não tendo tempo de prosseguir porque um estrépido áspero, um resfolegar anelante desviava todas as atenções para a porta de entrada. Na soleira da porta aparecia a figura desajeitada e cómica de um burrito cinzento, com grandes orelhas espetadas e olhitos redondos como duas missangas negras.
Mestra Abelha não gostou da interrupção, franziu o sobrolho e para dar de começo a ideia exacta do seu temperamento e autoridade interpelou assim o retardatário: meu menino; por ser hoje o dia da abertura das aulas não ficas na rua, mas daqui por diante ou chegas a horas como os teus demais condiscípulos ou voltas por onde vieste, com três valentes ponteiradas no lombo. Com ar severo concluiu zumbindo: tenho dito.
Daí por diante o burriquito levava quando merecia e muitas vezes até, quando não merecia.
Que culpa tinha ele de não lhe ficarem na cabeça vogais e consoantes, de ter dificuldade em traçar as letras, de não fixar a tabuada.?!
Por tabuada a menina Pega essa sim! Papagueava de fio a pavio adições, multiplicações, divisões…. E nas subtracções botava sempre figura.:
- Minha Senhora, falta-me a lapiseira.
-a mim a caneta
- a mim a borracha – diziam as colegas.
Nas subtracções a Pêga era sempre a dianteira. Coitadita a Galinha a escrever era mesmo só ela e na leitura: b á bá – b á bá, cacarejava muito aflita repetindo as sílabas gaguejando… sem passar da cepa torta.
Entre os alunos havia um que fizesse o que fizesse nunca era castigado. Pudera! Passava o tempo a lamber as botas da professora. Era o Cão.
Menos fiel, mas igualmente animada a Rolinha soubera atrair as boas graças. Esperta, viva, saltitante, quando Mestra Abelha delicadamente a advertia da sua falta de atenção, semicerrava o biquito deixando perpassar como um sussurro, enquanto dava às asas: põe-te na rua!! Põe-te na rua!! Põe-te na rua!!
Era preciso ter cabeça de ferro para governar naquele cortiço. D. Abelha exaltava-se, o ponteiro trabalhava.
Minha Senhora chamava um Periquito muito ridículo choramingando; o menino Galo está sempre a brigar comigo, puxou-me pelas penas do rabo…
Tudo calado zumbia a mestra batendo com a régua na secretária. Não ouviram? Tornava a bater, tudo calado!! Um Sardãozito esverdeado à socapa deitava a língua de fora. Tantas vezes o fez que foi de castigo… para fora da aula.
- Quantas vezes te tenho dito, Sardão, que é feio esse gesto!!! À mestra parecia-lhe impossível que lá em casa lhe dessem semelhante educação.!!
O menino Lobo e a menina Raposa eram pouco assíduos, em vez de irem para a escola iam aos ninhos ou às capoeiras. Não havia que estranhar, era costume que lhes vinha de longe; os senhores seus avós eram tal e qual…. Casa de pais, escola de filhos!!!
Enfim todos tinham suas qualidades e defeitos uns maiores outros menores.
Ali estava o Elefante que não era estúpido mas trombudo, o Gato manhoso e preguiçoso;
D. Leão desdenhando os que não tinham brasão, a Águia-real a quem tudo parecia mal, o Pavão, um grandessíssimo vaidoso, um toleirão. Ainda havia um menino, sebentão, fungando a cada instante, (o que grandemente irritava a professora). Era mesmo um suíno, não se lavava, ia para a escola com os dentes, as unhas, as orelhas imundas e chamavam-lhe Porco.
Estudioso, cumpridor, nos primeiros tempos só o Urso. Trazia as lições bem estudadas e nunca D. Abelha o pilhou em falta. Por essa razão lhe perdoava o seu feitio estranho, isolando-se dos companheiros, não acamaradando em brincadeiras. O Burriquito bem o desafiava: - oh Urso vem d’aí saltar o eixo.
- Eu?!!! Respondia o Urso… muito senhor de si. Não penses que gosto de brincar com quem é menor do que eu:
Então o burro acicatado com a esporada atirava-lhe uma parelha de coices: - grande urso é o que tu és!!!
Azedavam-se os ânimos, vinha a professora e o burro lá ficava de castigo, sem recreio e de orelha derrubada.
Em tão grande conta era tido o Urso no conceito da mestra que nem já o chamava às lições, na certeza da sua aplicação constante no estudo.
De ano para ano foi fazendo os seus exames e o burriquito ia passando também mercê da sua teimosia e força de vontade.
Chegaram ambos ao liceu. A fama do Urso porém tinha-se-lhe antecipado. As charamelas haviam soado forte atordoando os ouvidos dos professores e reitor que olhavam o recém vindo como um menino prodígio. Os anos foram passando, o Urso era premiado com esplêndidas notas, com chamadas ao palco na festa de abertura de aulas a recompensar o seu suposto esforço. E de tanta importância o investiram que o bom do urso se julgou um ser aparte.
Em contraste o burriquito esfalfava-se a estudar teimando, num supremo arranque de vontade em obter a média necessária para passar. Lá conseguiu tirar o curso ao mesmo tempo que o outro.
Já na Universidade cada qual seguia o seu caminho, o Urso muito adulado, pouco consciencioso, orgulhoso. O burro aceitando o seu destino com filosofia. Trabalhador, humilde persistente.
A barreira entre ambos já então se erguia, eriçada de cacos de garrafa; e deixou de haver contacto.
Estradas diferentes que deviam desembocar no mesmo largo, a vida reservava-lhes grandes surpresas.
Quando o Urso por acaso se encontrava com o Condiscípulo, baixava a cabeça contrafeito dizendo; olá… e era tudo.
Mas o Burrito perdoava-lhe a toleima, de si para si julgava o outro com superior inteligência e indulgência.
Correspondia e passava adiante. Senhores dos seus diplomas foram atirados para a vida, para a realidade; habilitando-se a prestar provas no mesmo concurso.
Por estranho que pareça não foi o urso quem ficou aprovado apesar das muletas da fama a que sempre se apoiava.
O Burro, o asno, o estúpido… obteve o lugar que lhe competia porque sem alardes e perseverando estudou com vontade de vencer. O outro, iludiu-se a iludir toda a gente e afinal fez uma linda figura ….de urso.

Conto de Alda dedicado aos sobrinhos Emília e João


Cria fama …. Deita-te a dormir

Aquilo começou na escola primária. No primeiro dia de aulas quando a mestra Abelha fez a chamada verificou que faltava um aluno.
Já os outros esperavam alinhados junto às carteiras que a professora os mandasse para os seus lugares. Sabedora do protocolo profissional D. Abelha não fez sem primeiro botar fala; num brevíssimo discurso inaugural. Meus meninos – começou enfatuada o ano lectivo que vai principiar traz ao professorado grandes esperanças, nunca como agora ocorreu tanta bicharada em busca da luz da instrução. As matrículas excederam tudo quanto é possível imaginar-se, e vejo com agrado, que estais satisfeitos de vir para a escola. Hoje é o primeiro dia de aula. Espero ver-vos no último com o mesmo aspecto risonho e confiante na esteira de um caminho mais longo e proveitoso que será um futuro cheio de glória…para muitos de vós. Sem bons alicerces meus amiguinhos não se pode executar obra sólida, e isto é o mesmo que dizer que sem bases… nada se faz de jeito.
A escola primária é o cabouco onde assenta o majestoso edifício da instrução; portanto, mãos à obra. Eu sou o capataz, vós os operários. Comecemos com coragem a construir os alicerces que aguentarão mais tarde um arranha-céus de muitos andares.
Nesta altura do discurso, mestra Abelha limpou uma lágrima teimosa que se escondia ao cantinho do olho, não tendo tempo de prosseguir porque um estrépido áspero, um resfolegar anelante desviava todas as atenções para a porta de entrada. Na soleira da porta aparecia a figura desajeitada e cómica de um burrito cinzento, com grandes orelhas espetadas e olhitos redondos como duas missangas negras.
Mestra Abelha não gostou da interrupção, franziu o sobrolho e para dar de começo a ideia exacta do seu temperamento e autoridade interpelou assim o retardatário: meu menino; por ser hoje o dia da abertura das aulas não ficas na rua, mas daqui por diante ou chegas a horas como os teus demais condiscípulos ou voltas por onde vieste, com três valentes ponteiradas no lombo. Com ar severo concluiu zumbindo: tenho dito.
Daí por diante o burriquito levava quando merecia e muitas vezes até, quando não merecia.
Que culpa tinha ele de não lhe ficarem na cabeça vogais e consoantes, de ter dificuldade em traçar as letras, de não fixar a tabuada.?!
Por tabuada a menina Pega essa sim! Papagueava de fio a pavio adições, multiplicações, divisões…. E nas subtracções botava sempre figura.:
- Minha Senhora, falta-me a lapiseira.
-a mim a caneta
- a mim a borracha – diziam as colegas.
Nas subtracções a Pêga era sempre a dianteira. Coitadita a Galinha a escrever era mesmo só ela e na leitura: b á bá – b á bá, cacarejava muito aflita repetindo as sílabas gaguejando… sem passar da cepa torta.
Entre os alunos havia um que fizesse o que fizesse nunca era castigado. Pudera! Passava o tempo a lamber as botas da professora. Era o Cão.
Menos fiel, mas igualmente animada a Rolinha soubera atrair as boas graças. Esperta, viva, saltitante, quando Mestra Abelha delicadamente a advertia da sua falta de atenção, semicerrava o biquito deixando perpassar como um sussurro, enquanto dava às asas: põe-te na rua!! Põe-te na rua!! Põe-te na rua!!
Era preciso ter cabeça de ferro para governar naquele cortiço. D. Abelha exaltava-se, o ponteiro trabalhava.
Minha Senhora chamava um Periquito muito ridículo choramingando; o menino Galo
está sempre a brigar comigo, puxou-me pelas penas do rabo…
Tudo calado zumbia a mestra batendo com a régua na secretária. Não ouviram? Tornava a bater, tudo calado!! Um Sardãozito esverdeado à socapa deitava a língua de fora. Tantas vezes o fez que foi de castigo… para fora da aula.
- Quantas vezes te tenho dito, Sardão, que é feio esse gesto!!! À mestra parecia-lhe impossível que lá em casa lhe dessem semelhante educação.!!
O menino Lobo e a menina Raposa eram pouco assíduos, em vez de irem para a escola iam aos ninhos ou às capoeiras. Não havia que estranhar, era costume que lhes vinha de longe; os senhores seus avós eram tal e qual…. Casa de pais, escola de filhos!!!
Enfim todos tinham suas qualidades e defeitos uns maiores outros menores.
Ali estava o Elefante que não era estúpido mas trombudo, o Gato manhoso e preguiçoso;
D. Leão desdenhando os que não tinham brasão, a Águia-real a quem tudo parecia mal, o Pavão, um grandessíssimo vaidoso, um toleirão. Ainda havia um menino, sebentão, fungando a cada instante, (o que grandemente irritava a professora). Era mesmo um suíno, não se lavava, ia para a escola com os dentes, as unhas, as orelhas imundas e chamavam-lhe Porco.
Estudioso, cumpridor, nos primeiros tempos só o Urso. Trazia as lições bem estudadas e nunca D. Abelha o pilhou em falta. Por essa razão lhe perdoava o seu feitio estranho, isolando-se dos companheiros, não acamaradando em brincadeiras. O Burriquito bem o desafiava: - oh Urso vem d’aí saltar o eixo.
- Eu?!!! Respondia o Urso… muito senhor de si. Não penses que gosto de brincar com quem é menor do que eu:
Então o burro acicatado com a esporada atirava-lhe uma parelha de coices: - grande urso é o que tu és!!!
Azedavam-se os ânimos, vinha a professora e o burro lá ficava de castigo, sem recreio e de orelha derrubada.
Em tão grande conta era tido o Urso no conceito da mestra que nem já o chamava às lições, na certeza da sua aplicação constante no estudo.
De ano para ano foi fazendo os seus exames e o burriquito ia passando também mercê da sua teimosia e força de vontade.
Chegaram ambos ao liceu. A fama do Urso porém tinha-se-lhe antecipado. As charamelas haviam soado forte atordoando os ouvidos dos professores e reitor que olhavam o recém vindo como um menino prodígio. Os anos foram passando, o Urso era premiado com esplêndidas notas, com chamadas ao palco na festa de abertura de aulas a recompensar o seu suposto esforço. E de tanta importância o investiram que o bom do urso se julgou um ser aparte.
Em contraste o burriquito esfalfava-se a estudar teimando, num supremo arranque de vontade em obter a média necessária para passar. Lá conseguiu tirar o curso ao mesmo tempo que o outro.
Já na Universidade cada qual seguia o seu caminho, o Urso muito adulado, pouco consciencioso, orgulhoso. O burro aceitando o seu destino com filosofia. Trabalhador, humilde persistente.
A barreira entre ambos já então se erguia, eriçada de cacos de garrafa; e deixou de haver contacto.
Estradas diferentes que deviam desembocar no mesmo largo, a vida reservava-lhes grandes surpresas.
Quando o Urso por acaso se encontrava com o Condiscípulo, baixava a cabeça contrafeito dizendo; olá… e era tudo.
Mas o Burrito perdoava-lhe a toleima, de si para si julgava o outro com superior inteligência e indulgência.
Correspondia e passava adiante. Senhores dos seus diplomas foram atirados para a vida, para a realidade; habilitando-se a prestar provas no mesmo concurso.
Põe estranho que pareça não foi o urso quem ficou aprovado apesar das muletas da fama a que sempre se apoiava.
O Burro, o asno, o estúpido… obteve o lugar que lhe competia porque sem alardes e perseverando estudou com vontade de vencer. O outro, iludiu-se a iludir toda a gente e afinal fez uma linda figura ….de urso.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Flores de Alda Mattos e Silva Marinha


Alda Margarida de Mattos e Silva Marinha


Ganhou a 3ª menção honrosa no Concurso Literário de “Conclusões e Respostas” da Revista Modas & Bordados, com a “ Novela…quasi- trágica” , tendo assinado com o pseudónimo “Tojos e rosmaninhos”. Publicada em de Junho de 1941.
Ganhou o 1º Premio do “ Conto de Natal”, no Concurso Literário de "Conclusões e Respostas" da Revista Modas & Bordados, publicado em 22 de Dezembro de 1943, intitulado “A história da avozinha”.
O conto romântico “ Casamento e mortalha no Céu se Talha” foi premiado no Concurso Literário de "Conclusões e Respostas" da Revista “ Modas & Bordados” e publicado em Junho de 1943.

Aguarela de Ema Mattos e Silva


Ema Mattos e Silva também se dedicou ao desenho e à pintura, sobretudo aguarela.

Miniaturas sobre marfim de Alda Marinha

D. João V e Rainha D. Amélia

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Alda Margarida de Mattos e Silva Marinha

Alda, pintora e contista, também era uma apaixonada por música. Na sua juventude aprendeu a tocar violino, mas também tocava muitissimo bem piano. Havia, com alguma frequência, em nossa casa sessões em que ela tocava peças de Chopin ou de Schumann assim como outras peças musicais que Fernanda cantava.
Pintava miniaturas a aguarela, sobre marfim.





segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

domingo, 3 de fevereiro de 2008

sábado, 2 de fevereiro de 2008