Gosto do vento batendo-me no rosto.
Gosto do vento enregelando as mãos
caídas sem expressão.
Gosto do vento enregelando o corpo
e fazendo ondular os cabelos
como seara ao sol quente de Agosto.
Gosto do vento secando-me as lágrimas do pranto que chorei.
Gosto do vento levando em turbilhão
as saudades dum canto,
lembranças mortas que como folhas
de Outono esvoaçam pelo além.
Gosto do vento que uiva, que ruge,
Gosto do vento que queima, estiola.
Gosto do vento que me traz saudoso
e num fado que o tempo canta
ao som indefinido da indefinida viola.
Gosto do vento que me bate no rosto.
Gosto do vento, gosto, gosto!
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Poema de João Mattos e Silva (1968).
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