segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

«Pic-Nic»


Esta aguarela de Emília Mattos, figurando um pic-nic junto de um ribeiro, representado através de um apontamento descontraído, faz-me pensar na pintura impressionista, nomeadamente no Dejeuner sur l'herbe de Manet, ou, sobretudo, noutras pinturas de Monet e Renoir.
Será que a minha bisavó conhecia essas obras? A verdade é que, exceptuando (a aproximação) a alguns trabalhos de Malhoa ou Aurélia de Sousa, o tema não era comum na pintura portuguesa. Existe, contudo, um poema de Cesário Verde que se refere a este tipo de actividade lúdica da burguesia, deixando a vida citadina para passear um pouco no campo:
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«Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
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Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
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Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampamos; inda o sol se via,
Houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
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Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
o ramalhete rubro das papoulas!»
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Cesário Verde,
In Constante Procura (8 de Setembro de 2008).

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