quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Na Sintra ainda rural de 1958



Quando os pais arranjaram uma casa para férias na Portela, em Sintra, esse bairro, a par da Estefânia, era a parte moderna da vila. Algumas moradias na descida da então Av. José Frederico Ulrich, um descampado à esquerda onde,depois de uma ruazita, ficava um dos cinemas, o Sintra-Cinema, depois a zona de prédios, baixos, com dois ou, no máximo, três andares e depois de novo descampado com mato rasteiro e algumas árvores perdidas, que ia até ao Algueirão.
Por trás da nossa casa, para além do quintal, ficava uma estrada, entre uma casa de quinta e o muro do campo de futebol do Sintrense, em terra batida, onde além do desporto-rei ocorriam no verão os Concursos Hípicos, que reunia a nata dos cavaleiros - ali vi entre outros, Malta da Costa e Ana Maria Ribeiro Ferreira, hoje embaixatriz Sider Santiago, e da nossa melhor sociedade - e onde ia com alguma frequência o Presidente da República, Gen. Craveiro Lopes, assistir às provas. Então o altifalante soava:"entra em campo o Capitão João Carlos Craveiro Lopes, montando o...".O pai seguia atentamente a carreira hípica do filho.
Para essa estrada, sobre cujo lado esquerdo se via ao fundo a serra e nela o Palácio da Pena, ia muitas vezes Fernanda Mattos e Silva desenhar e pintar, montando cavalete e sentando-se num banquinho de armar, à sombra das árvores dos restos da velha quinta. Era ainda a Sintra semi-rural com o encanto que perdeu em poucos anos com o crescimento da população e a proliferação de prédios que rodearam a nova estação dos comboios, então um tosco apeadeiro.
Esta tela retrata um trecho dessa estrada, por onde ainda passavam ,quando eu era adolescente, saloios e saloias montados em burros com os alforjes cheios de figos, ovos, galinhas, legumes , pevides e tremoços para vender. Confesso que sinto uma grande saudade dessa Sintra e dessa minha feliz e tranquila juventude.

1 comentário:

El Gato disse...

Gostei muito de ler este texto!