sexta-feira, 25 de abril de 2008

Decidimos suspender temporariamente o nosso blog. As três gerações foram aqui representadas com as obras realizadas até agora. Voltaremos muita possivelmente um dia com novas obras poéticas, literárias ou pictóricas da terceira geração.

É possível que a quarta ou quinta geração se venha juntar ao blog que terá de mudar nome.

Esperamos que o texto de hoje seja um até breve.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Intemporal - Antologia, ou o fechar de uma página da vida


Trinta e cinco anos depois da publicação de “Sem Contorno”, em 1968, nas Edições Excelsior, pela mão do meu pai que acreditou na minha escrita incipiente da poesia, resolvi fechar um ciclo longo e que conheceu uma grande evolução na forma, embora também na temática e, sobretudo, na abordagem poética.

Ao longo dos muitos anos sofri diversas influências formais, fruto da leitura de centenas de livros de dezenas de poetas, sobretudo dos poetas portugueses. Sobretudo daqueles que, na depuração do verso, conseguiram que o uso rigoroso da palavra permitisse dizer, numa síntese perfeita, todo um discurso de muitos versos, em poucos versos cheios de significações, emoções e cosmogonias. De todos, destaco dois que foram meus mestres: Sophia de Mello Breyner Andresen e Eugénio de Andrade. Nunca fui, porém, ao pé deles, mais do que uma sombra fugidia.

Assim, retomando um título que, de alguma forma, tinha um significado profundo na minha forma de expressão poética – “Intemporal” – publiquei em 2003 uma Antologia muito breve, prefaciada pelo meu amigo poeta Cândido José de Campos - por cuja poesia tenho uma grande admiração e com a qual de tantas formas me identifico - que também seleccionou os poemas, e com capa e desenhos originais do também meu amigo e companheiro de ideais, também dos estéticos, Luís Moreira. Aos poemas dos meus livros publicados e antologiados, juntei mais alguns que, ou não tinham cabido na selecção feita para eles, ou escrevera posteriormente a “Marítimo Caminho”.

Com esta antologia encerrei um capítulo da minha produção escrita. Quando a emoção se desvanece com a idade e com as ilusões que a vida se compraz em desfazer, resta pouco do discurso poético que não seja um espartilho formal para palavras que encerram uma outra realidade que não a poesia. Não concebo – e não cedo a conceitos que a defendem e utilizam – a poesia sem emoções. “Poesia menor” será a que escrevi. Mas foi a minha mais forte forma de expressão.

Dos Inéditos

Nas tuas mãos

Nas tuas mãos deixei uma por uma
as flores da solidão que desfolhaste.


Eternidade

Havia em mim o sol:
em ti a lua.

Assim ficámos cada instante
a vida
até ao eclipse
total dos nossos sonhos.


Mar

Há sempre mar
em cada sonho meu
e sempre um barco
que em meu olhar aporta.
Há sempre sal e espuma
e sempre ausência
e sempre uma chegada
e sempre a inconstância
do mar que vem e vai
em marés de desejo.
Há sempre mar
e sempre uma saudade
nos reflexos do sol
nos refluxos de um beijo.

Alva
A luz desperta;
é a manhã primeira.
Enche-se de cor a terra
informe e nua.
O teu corpo desperta;
luz primeira
que no meu corpo
teu corpo perpetua.


Que o poema se chame sua chave.

Na memória se encerra nela se abre
o tempo do que foi do que há-de vir.
Que o poema se chame sua chave.

"Leitor atento desde há longos anos da obra de João Mattos e Silva,foi um grande prazer e um enorme desafio, traçar estas linhas, fruto de uma empatia intuitiva mais do que de uma análise sistemática, mas que nunca descuraram a tentativa de desvendar com humildade o segredo oculto nas palavras, pois como dizia Santa Teresa de Ávila: - Humildade é a verdade; e isso acima de tudo pretendeu o artífice desta singela conversação escrita: - que o poema se chame sua chave" Cândido José de Campos, do Prefácio

sábado, 19 de abril de 2008

Apesar de o fogo ser o elemento mais forte do meu horoscopo, a água tem sido sempre uma das principais fontes de inspiração para as minhas pinturas. O fogo também tem um enorme peso pois que as cores vermelha e laranja nas suas mais variadas tonalidades aparece em quase todos os meus trabalhos.


A água fonte de vida, meio de purificação, mãe. O fogo, o Sol, o Verão, a cor vermelha que simboliza não só a paixão mas também o espírito, a purificação e a iluminação. A purificação pelo fogo é complementar da purificação pela água. E eu sou uma mistura de fogo e água.

Os búzios saídos do mar, representam a minha natureza feminina, de mulher e de mãe.

Os frutos, ovo, são a fecundidade e o meu desejo de imortalidade.


A vida é uma travessia difícil e os barcos são uma segurança. Ajudam-nos a atravessar a nossa existência levando-nos a bom porto mesmo no meio das tempestades.



As minhas janelas são sempre vistas do interior para o exterior. É a minha procura da verdade dentro de mim mesma e a minha necessidade de viver a vida lá fora, de acordo com o que aquilo em que acredito.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Marítimo Caminho


O mar sempre exerceu em mim um enorme fascínio. Amo-o como o temo. Procuro-o como o rejeito. Mas percorre-me as veias do espírito como uma força vital, um outro sangue salgado
e revolto ou tranquilo no seu marulhar, no fluxo e refluxo das marés, um mar que canta suavemente no seu vai e vem, que grita nas ondas alterosas, que afaga e que castiga.
É uma constante na minha poesia. É a expressão da relação com os outros, é o sonho das distâncias e dos longes, é a manifestação da minha universalidade, é a memória histórica de navegantes e aventureiros, de descobridores, de simples viajantes.
No título de dois dos meus livros, na imagem da capa de um deles, figura como uma presença com direitos que adquiriu no meu imaginário. Sigificando, quando fala de um "Tempo de Mar Ausente", de 1972, a impossibilidade do diálogo que gerou a guerra, ou quando diz que o meu percurso humano é um "Marítimo Caminho", feito de mar chão e mar revolto, de marés que me atiram para o mar alto, solitário e ilimitado ou me fazem morrer na praia, terra firme de sonhos, acções, ilusões e desilusões, ou quando me recolho, exausto, a um porto de abrigo.
"Marítimo Caminho" apareceu dez anos depois de "Memória(s), em 1997, na editora "Tertúlia", colecção "Clube dos Poetas Vivos".


Nauta

Ao mar me fiz. Ao mar do ignorado
desejo de encontrar outras distâncias.
Tracei rotas de sol rumos de espanto
e parti insensato à aventura
as velas enfunadas o vento de feição.

No cais da despedida meu cansaço
ficou aquietado.Me fiz assim ao mar.
O que irá encontrar meu louco coração?


Nostalgia

Vinda do mar no verso da palavra
ao mar voltou no reverso do olhar.


Sereias

Apenas escutarei em suas vozes
as palavras de amor que reconheço.


Cais

Inumeráveis os dias;inenarráveis as horas.
Aquático à luz da arde estremecias
esperando naus das índias que ainda choras.

terça-feira, 15 de abril de 2008

1987, ano de intensa vivência poética


Em 1987, por iniciativa da associação Património XXI, de que era sócio, participei com perto uma centena de poetas de várias gerações e discursos diversos, nos III Encontros de Poesia de Vila Viçosa, entre eles Raul de Carvalho, Luís Veiga Leitão, Orlando Neves, Rebordão Navarro, Adalberto Alves, António Almeida Mattos, Fernando Namora, João Rui de Sousa, Fiame Hasse Pais Brandão, José Blanc de Portugal, José Manuel Capêlo e Wanda Ramos. Da poesia apresentada foi feito um livro, "Água Clara - Poetas em Vila Viçosa" . Dele, um poema;




Porque morre um poeta?

à memória de Ruy Cinatti

Porque morre um poeta? porque parte
a desvendar o sonho o encoberto
se tudo o que um poema silencia
seria revelado ou descoberto?
Porque morre um poeta? Porque morre?


Em 1987 também aparece nos escaparates "Palavras - Sete Poetas Portugueses Contemporâneos", reunindo poemas de António Almeida Mattos, João Mattos e Silva, José Manuel Capêlo, Cândido José de Campos, Fernando Tavares Rodrigues , Nicolau Saião e Rita Olivaes. Desse livro


Pranto de Adriano Imperador

Nunca o silêncio dirá
da dor que cinjo
como o império que sirvo
e a que resisto.
Nem de tão grande amor
irão meus versos
toda a grandeza. E os rios
mares que chorei.

Serás sempre o meu deus
pátria e destino.
Roma é vertigem só;
a vida instante.

Teu sacerdote ó Antinoos
sou: eterno e amante.

sábado, 12 de abril de 2008

Emília Matos e Silva - Retratos

Tenho feito por encomenda diversos retratos, uns a óleo s/tela e outros a pastel.


Professor Veiga Simão -então Ministro da Industria


Maria Emília de Azevedo e Castro Pina Correia



Filhos de Dom Duarte Pio, Duque de Bragança
pinturas feitas para a exposição " Real (idade) de uma convicção".

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Mais um passo no percurso poético - Memória(s)


A par com a publicação de poesia, o final dos anos oitenta foi fértil em acções de escrita. Crítica literária no jornal "Letras e Letras", editado no Porto por Joaquim de Matos, recensão literária no "Semanário", colaboração regular com poesia e prosa na revista literária "Património XXI", dirigida pelo escritor e saudoso amigo Orlando Neves.

1987 é o ano do aparecimento de um novo livro de poemas, "Memória(s), com capa da pintora Emília Matos e Silva e prefácio do escritor Mário Cláudio.



Do Prefácio



"Tem João Mattos e Silva, portanto, em suas mãos, o direito de ser, contra rabiscos vários dos jograis em comandita, poeta verdadeiro e discretamente maior. Confrontado com o seu enigma, na pátria e no texto o ancorou, finalmente decidida, uma vez eliminadas as rasuras e os borrões do discurso que a nós todos pré-existe, a identidade que lhe cabe...

...Solitária, mas insubmissa, se reconhece esta pena, ao termo da jornada empreendida. Nenhuma das frustrações a condenaria, entretanto, à resignação, pois pois que de muito para além do que é a energia lhe cresce. Consciente, como as do fundo da sabedoria, de que 'além de nós um outro/ surge em cada esquina de luz desvirtuada', perguntará 'porque morre um poeta?'. Grita-lhe-ão, em resposta, que por algo que se desvendou, mas que ninguém conhece, para sempre sepultado no entendimento do silêncio, uma vez o limite ultrapassado de a si próprio explicar". Mário Cláudio



Espelhos



Como num espelho da imagem
retrocesso. Imagem não do tempo
mas no tempo. O outro lado
o seu reverso apenas o avesso.
No polido do aço o fio do aço
a imagem polida e frio o espelho.



De Ariana o fio


Ser de Ariana o fio e em labirintos
de mistério esquecer como Teseu
vencido o Minotauro da razão.


Ser de Dionísio aquele amor sereno
por Ariana só e desprezada.
De Teseu a vitória sem traição.


De outros mitos construir a glória
e apenas nas distâncias da memória
ser o fio de Ariana e a paixão.





Fala de Mulei Moluc



Senhor de outros reinos que não deste
teus sonhos nas areias apodrece.
Estás morto. Perdido o império incerto.

Senhor destes reinos vencedor
a vitória me dói e queima. E o deserto.
O esquecimento de mim só não virá
por memória de ti que és encoberto.




Lamento de hoje



Este estar vivo assim é que me mata:
não mais por mar além ou terra fora
naufragado na Costa não da Mina
mas desta pátria triste que só chora
e não descobre outro destino ou sina
terras de Prestes João ou Rio da Prata.





Quinto Império



Por onde nas florestas desbravadas
ou em oceanos índicos pacíficos
sulcados de remotas aventuras
e de sonhos é que perdido andei?


Corpo - espaço de sonho recoberto
por índias e brasís me dispersei.
Novos mundos ao mundo foram dados.
E agora aonde irei?


Com palavras farei um outro império
maior e mais constante
que o amor na palavra nos congraça.
Por elas nos cumprimos nas praias
do Restelo ou de Mombaça.




segunda-feira, 7 de abril de 2008


Fiz em 1978 a capa e as ilustrações do livro de cozinha escrito pela minha mãe Fernanda Matos e Silva.



Para a editorial escritor fiz diversas pinturas para capas de livros.

domingo, 6 de abril de 2008

No ano de 1998 participei com três pinturas numa exposição colectiva, na galeria Óptica do Conde de Redondo, intitulada "Real(idade) de uma convicção". Dois oleos s/ tela denominados "Futuro I" e "Futuro II" retratam os filhos mais velhos do Duque de Bragança.

O terceiro chama-se " Inês de Portugal". Neste, Inês aguarda ansiosa a chegado do seu amado. Na mão direita uma rosa vermelha que simboliza não só o fogo da sua paixão e o eterno amor que os unia, mas também o seu sangue derramado.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cântico Suspenso

Dez anos depois de "Intemporal" - em 1986 - publiquei nas edições Silex um novo livro de poemas. Tinha o título de outro, do grande poeta José Régio, mas não tinha como não o ter. O mistério do cântico poético estava suspenso de uma visão diferente do mistério do caminho da vida que ia percorrendo e era uma manifestação de coragem "mostrar o que se achou no caminho - e nunca é fácil, nem alegre, nem irresponsável revelar o que se encontrou ou sonhou nas galerias da alma..."( Eugénio de Andrade - Poética).


Inscrição

Mortais é o que somos.
E deuses já não fomos?


"Uma descoberta este Cântico Suspenso! Pois 'eram dunas o deserto do teu peito:nelas de amor imprimi os meus dedos'. Ainda 'No meu corpo o teu corpo em vão procuro/ como em mim não encontro/outra nascente' Uma poesia calma, resguardada, simples, sem palavras últimas. Palavras que se vestem ao nosso olhar". Cecília Barreira

Mitos

Lagos

Dali partiu Sebastião. Lagos
serenos de infinito em seu olhar
partiram. E sonhos não sonhados.
Ali do norte ventos aportados
dormem no areal: esperando o mar.
E partem algum dia. Mas viver
é ir morrendo assim mas devagar.


Rituais

Nocturnos

1.

Vespertina ternura
a dos amantes
que na manhã renascem
separados
nos olhos nas palavras
nos desejos
aos versos do poeta
apenas confinados.

2.

Eram do poeta os versos
surpreendidos
pelo sorriso na manhã
nascente
no mistério do verbo
desvendado.

Apócrifas apenas
as palavras
que dizem do silêncio
resguardado.

"Este seu belíssimo, belíssimo, Cântico Suspenso é desses livros que chegam, e bem poucos são eles, para se demorarem em nossas mãos. Creio pois que não poderá reivindicá~lo só para si, tão de encontro se faz de um poeta com a imagem reflectida de todos nós". Mário Cláudio

Celebrações

Caminhos

Tormentosos caminhos penso
e vou.
Nos desvios se me perco
retrocedo:
assim partindo sempre
nunca chego.
Fico mas não estou.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Intemporal


O 25 de Abril de 1974 proporcionara-me inesperadas experiências, de que as políticas, sendo as mais manifestas para quem vivera trinta e dois anos em ditadura, foram as as mais indeléveis. Mas também na abertura de novos horizontes na cultura, na forma de estar, na forma de ver a vida e a sociedade - que curtas estadas na Europa já tinham antecipado. Dessa experiência pessoal surgiu o terceiro livro de poemas que sendo datados, eram simultaneamente intemporais. Foi em 1976, em edição de autor, com capa de Luís Silva Moreira. Mereceu do poeta e crítico literário da revista "A Vida Mundial", Dórdio Guimarães, dirigida pela saudosa e grande poetisa Natália Correia, estas palavras: " Uma doce desilusão é este livro de versos de João Mattos e Silva. Desilusão que apetece dizer 'intemporal', exactamente o título do volume. Há uma delicadeza interrogativa na sua poesia que me toca particularmente. Uma subtil fragrância que chega ao nervo, acaricia o músculo e segreda que tudo vai ser pó e cinza depois do certo e incerto beijo. Têm dedos as palavras poéticas de João Mattos e Silva. Dedos que digitam a nossa memória e nos dizem sossegada e solenemente "nunca mais". Esse nunca mais de veludo que têm as coisas desiludidas que já se viveram... Intemporal é um livro saborável, dolente como uma fumaça de cachimbo, pairante... tem a impressão da sensibilidade imorredoira que torna o poeta 'uma coisa' verdadeiramente intemporal"


Pórtico

Ser livre
é não reter nas mãos
o vento
é ser verdade e sal
e ser fermento.


3

Pacíficos paramos a distância
que vai da paz á guerra.

...Somos a toga e arca da aliança
mas usamos adaga
e silenciamos
a lei que encerra.

Pacíficos apressamos nossos passos
e ungimos nossos corpos para a guerra.


As Palavras

I

Construir a palavra
letra a letra;
o poema verso a verso
feito.
Delimitar a sombra
do teu corpo;
medir a beijos o teu peito.

Circundar o teu rosto
riso a riso;
descrever passo a passo
o teu caminho.
O verbo de prolixo
ser conciso;
vermelho não ser vinho.

Alargar o limite
a traços tracejado;
destruir o segredo
sangue a sangue guardado.


Ser feliz sonho a sonho
acrescentado.



Sombras

1

É muito cedo ainda
para ter haver
no fogo que não arde.

É muito cedo ainda
(sendo tarde)
no tempo em que não estou.

Pilatos lavo-me as mãos
do inocente que não sou.


terça-feira, 1 de abril de 2008

Em Fevereiro de 1996 participei na Exposição colectiva dos professores da EB 2.3. Nuno Gonçalves.

Em Setembro/ Outubro de1997 expus na Galeria Optica do Conde de Redondo "Estados de Ser"