sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cântico Suspenso

Dez anos depois de "Intemporal" - em 1986 - publiquei nas edições Silex um novo livro de poemas. Tinha o título de outro, do grande poeta José Régio, mas não tinha como não o ter. O mistério do cântico poético estava suspenso de uma visão diferente do mistério do caminho da vida que ia percorrendo e era uma manifestação de coragem "mostrar o que se achou no caminho - e nunca é fácil, nem alegre, nem irresponsável revelar o que se encontrou ou sonhou nas galerias da alma..."( Eugénio de Andrade - Poética).


Inscrição

Mortais é o que somos.
E deuses já não fomos?


"Uma descoberta este Cântico Suspenso! Pois 'eram dunas o deserto do teu peito:nelas de amor imprimi os meus dedos'. Ainda 'No meu corpo o teu corpo em vão procuro/ como em mim não encontro/outra nascente' Uma poesia calma, resguardada, simples, sem palavras últimas. Palavras que se vestem ao nosso olhar". Cecília Barreira

Mitos

Lagos

Dali partiu Sebastião. Lagos
serenos de infinito em seu olhar
partiram. E sonhos não sonhados.
Ali do norte ventos aportados
dormem no areal: esperando o mar.
E partem algum dia. Mas viver
é ir morrendo assim mas devagar.


Rituais

Nocturnos

1.

Vespertina ternura
a dos amantes
que na manhã renascem
separados
nos olhos nas palavras
nos desejos
aos versos do poeta
apenas confinados.

2.

Eram do poeta os versos
surpreendidos
pelo sorriso na manhã
nascente
no mistério do verbo
desvendado.

Apócrifas apenas
as palavras
que dizem do silêncio
resguardado.

"Este seu belíssimo, belíssimo, Cântico Suspenso é desses livros que chegam, e bem poucos são eles, para se demorarem em nossas mãos. Creio pois que não poderá reivindicá~lo só para si, tão de encontro se faz de um poeta com a imagem reflectida de todos nós". Mário Cláudio

Celebrações

Caminhos

Tormentosos caminhos penso
e vou.
Nos desvios se me perco
retrocedo:
assim partindo sempre
nunca chego.
Fico mas não estou.

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