quinta-feira, 17 de abril de 2008

Marítimo Caminho


O mar sempre exerceu em mim um enorme fascínio. Amo-o como o temo. Procuro-o como o rejeito. Mas percorre-me as veias do espírito como uma força vital, um outro sangue salgado
e revolto ou tranquilo no seu marulhar, no fluxo e refluxo das marés, um mar que canta suavemente no seu vai e vem, que grita nas ondas alterosas, que afaga e que castiga.
É uma constante na minha poesia. É a expressão da relação com os outros, é o sonho das distâncias e dos longes, é a manifestação da minha universalidade, é a memória histórica de navegantes e aventureiros, de descobridores, de simples viajantes.
No título de dois dos meus livros, na imagem da capa de um deles, figura como uma presença com direitos que adquiriu no meu imaginário. Sigificando, quando fala de um "Tempo de Mar Ausente", de 1972, a impossibilidade do diálogo que gerou a guerra, ou quando diz que o meu percurso humano é um "Marítimo Caminho", feito de mar chão e mar revolto, de marés que me atiram para o mar alto, solitário e ilimitado ou me fazem morrer na praia, terra firme de sonhos, acções, ilusões e desilusões, ou quando me recolho, exausto, a um porto de abrigo.
"Marítimo Caminho" apareceu dez anos depois de "Memória(s), em 1997, na editora "Tertúlia", colecção "Clube dos Poetas Vivos".


Nauta

Ao mar me fiz. Ao mar do ignorado
desejo de encontrar outras distâncias.
Tracei rotas de sol rumos de espanto
e parti insensato à aventura
as velas enfunadas o vento de feição.

No cais da despedida meu cansaço
ficou aquietado.Me fiz assim ao mar.
O que irá encontrar meu louco coração?


Nostalgia

Vinda do mar no verso da palavra
ao mar voltou no reverso do olhar.


Sereias

Apenas escutarei em suas vozes
as palavras de amor que reconheço.


Cais

Inumeráveis os dias;inenarráveis as horas.
Aquático à luz da arde estremecias
esperando naus das índias que ainda choras.

1 comentário:

Emília Matos e Silva disse...

Isso de amar e temer o mar é mesmo dos nossos genes. Eu também tenho pelo mar verdadeira paixão mas um medo considerável, especialmente se estou demasiado perto dentro ou fora de água.